este blog reúne os 28 poemas de emily dickinson constantes em o cânone americano - o espírito criativo e a grande literatura, de harold bloom, publicado em tradução minha pela editora objetiva em 2017.
emily dickinson
28 poemas em tradução de denise bottmann
Incapazes são os Amados de morrer
#951
Incapazes são os Amados de morrer
Pois o Amor é Imortalidade,
Sim, é Divindade –
Incapazes os que amam – de morrer
Pois o Amor converte a Vitalidade
Em Divindade.
A Dor - expande o Tempo
#833
A Dor – expande o Tempo –
Eras se enrolam em nó
Na miúda Circunferência
De um Cérebro só –
A Dor contrai – o Tempo –
Ocupadas com o Disparo
Gamas de Eternidades
Passam sem que se repare
O Todo da coisa não veio de uma vez
#485
O Todo da coisa não veio de uma vez –
Foi Assassinato gradual –
Uma Facada – e então uma chance à Vida –
Para o Êxtase cauterizar –
O Gato adia a execução do rato
Afrouxa a presa
Só o tempo para a Esperança importunar –
Então esmaga-o até à morte –
É a recompensa da Vida – morrer –
Mais contente de uma vez só –
Do que meio morrer – então se refazendo
Para um Eclipse mais consciente –
Provo um licor nunca fermentado
#207
Provo um licor nunca fermentado –
De Canecos cavados em Marfim –
Nem todas as uvas de Frankfurt
Produzem um Álcool assim!
Embriagada de ar – vivo eu –
Uma Devassa do Orvalho –
Cambaleando – em dias de verão sem fim –
Pelas tavernas de Azul claro –
Quando o “Dono do Bar” expulsa a Abelha bêbada
Da porta da Dedaleira –
Quando as Borboletas – renunciam a seus “tragos” –
Ainda prossigo na bebedeira!
Então os Anjos erguem o alvo Chapéu –
E os Santos – às janelas do Arrebol –
Acorrem para ver a Esponjinha
Se escorando no – Sol!
Tanto assim só perdi duas vezes
#39
Tanto assim só perdi duas vezes –
E isso foi sob o chão.
Duas vezes fiquei mendigando
A Deus, em seu portão!
Anjos – duas vezes descendo
Reembolsaram meus capitais –
Ladrão! Banqueiro! – Pai!
Estou pobre uma vez mais!
As águas o perseguiam enquanto fugia
#1766
As águas o perseguiam enquanto fugia,
Sem ousar olhar para trás;
Uma onda lhe sussurrou ao Ouvido:
“Vem comigo, caro amigo;
Meu salão é de vitral,
Tenho peixes na despensa
Para todos os gostos do Ano” –
A essa revoltante aventurança
O objeto flutuante ao seu lado
Não deu qualquer resposta clara.
Tais Noites Besouros adoram
#1150
Tais Noites Besouros adoram –
Da Altura remota
Desce pesado na perpendicular
Sua figura desperta –
O terror das Crianças
A diversão dos homens
Depositando seu Trovão
Iça-se e sai outra vez –
Uma Bomba no Forro
É uma boa reforma –
Mantém os nervos ativos
Com conjeturas em forma –
Uma delícia a noite de verão
Sem discreto alarme –
Fornecido pela Entomologia
Com seu resto de charme –
No Inverno no Quarto
#1742
No Inverno no Quarto
Topei com um Verme
Rosado fino e quente
Mas como era um verme
E vermes são abusados
Fiquei preocupada
E o amarrei com um fio
Em algo ali perto
E lá deixei –
Um Pouco depois
Aconteceu uma coisa
Que foi difícil de acreditar
Majestosa em sangue rastejante
Uma serpente de raro mosqueado
Inspecionava o chão de meu quarto
Na aparência igual ao verme de antes
Mas cingia com poder
O mesmo fio com que
A amarrei – também
Quando era miúda e nova
Aquele fio estava lá –
Recuei – “Como és bonita”!
Gesto de Propiciação –
“Sibilou com medo
De mim”?
“Cordialidade nenhuma” –
Sondou-me –
Então a um Ritmo Esguio
Instilou sua Forma
E em Desenhos a fio
Se projetou.
Dessa vez fugi
De olhos postos nela
Para não me perseguir
E não parei de correr
Até uma Cidade distante
Várias adiante da minha
Então me acalmei
Era um sonho –
Por estares indo
#1314
Por estares indo
Para nunca mais voltar
E eu, mesmo absoluta
Teu Rastro posso extraviar –
Como a Morte é definitiva,
Por primeira necessidade
Fique esse instante suspenso
Acima da Mortalidade.
O sentido que cada um viveu
Foi o outro encontrar
Descoberta que nem Deus
Pode agora aniquilar
Eternidade, Presunção
O instante de perceber
Que tu, a própria Existência,
Te esqueceste de viver –
A “Vida que é” então terá sido
Uma Coisa que nunca conheci –
Como o Paraíso fictícia
Se não for o Reino de ti –
A “Vida que será”, para mim,
Um Lar demasiado escasso
Se no Rosto de meu Redentor
Eu não reconhecer teu traço.
A Imortalidade, não duvido,
Com ele eu bem trocaria,
Esvaziada de Tudo por teu Rosto,
Menos d’Ela mesma –
Do Céu e do Inferno também acato
O Direito de se impor
Aos que trocariam esse Rosto
Por seu Amigo de menor valor.
Se “Deus é Amor” como ele admite
Pensamos que deve ser
Porque é um “Deus ciumento”
Como dá a perceber
Se “nele Tudo é possível”
Como ele mesmo tem afirmado
Então há de nos devolver
Nossos Deuses confiscados –
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